ARTIGO | A gente não quer só comida

Provavelmente você, leitor, ao se deparar com o título emendou “a gente quer comida, diversão e arte”. Também pudera, a canção “Comida”, de autoria de Arnaldo Antunes, Sergio Britto e Marcelo Fromer, ficou famosa na versão dos Titãs. Mas além de uma excelente música popular brasileira, a letra expõe em metáforas os anseios de um trabalhador. E essa música me veio à cabeça justamente quando imaginava quais seriam os desejos da classe trabalhadora para esse Dia do Trabalhador. Afinal, 2020 não tem sido muito animador no âmbito econômico. Mas isso não quer dizer que o trabalhador deve se sujeitar a qualquer tratamento.

Em minha experiência como advogado de trabalhadores, tenho notado que eles não querem apenas a comida (ou o seu salário) a qualquer custo. Respeito e dignidade de tratamento têm sido uma forte tônica de reclamação. Não querem que sejam vistos como pessoas de menor valor, que deveriam agradecer por simplesmente ter um emprego.    

Recentemente, uma cena reforçou esta ideia em mim. Nesta semana, em Campina Grande-PB, diversos empresários obrigaram os funcionários a fazer protestos para a reabertura do comércio, além de mandarem estes ajoelharem-se em frente às lojas.

Obviamente que esta cena é uma extrapolação da cena cotidiana, mas demonstra que não basta a comida ao trabalhador. Ora, se a relação de emprego é (ao menos, em tese) um contrato, as duas partes deveriam ser mutuamente respeitadas. Como diz a canção, em termos de direitos trabalhistas, “a gente não quer só dinheiro; a gente quer inteiro; e não pela metade”.

Artigo do advogado Guilherme Pacheco Monteiro publicado no Brasil de Fato-RS.

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